GALERIA
Exposição traz fotografias de casamento realizados em Limoeiro do Norte em diversas épocas, evidenciando valores sociais e culturais envolvidos nesta celebração (Foto: Melquíades Júnior)
Fotos do casamento eram tiradas até mais de um ano depois do enlace, em estúdios de Fortaleza e Aracati (Foto: Melquíades Júnior)
Fotografados e parentes se emocionam ao visitar a exposição, na Biblioteca Municipal de Limoeiro do Norte (Foto: Melquíades Júnior)
Matrimônio ainda é uma das celebrações mais importantes da sociedade, tanto que merece registro para a posteridade (Foto: Melquíades Júnior)
Fotografias do fim do século XIX até a primeira metade do século XX revelam usos a importância da festa
Limoeiro do Norte Na época em que casamento era a principal festa familiar, a sociedade se reunia em torno da celebração do matrimônio. Capitão, coronel, comerciante, vereador, prefeito, dentista, médico, advogado, ou um filho e filha de algum desses titulares realizavam um concorrido evento. Diferentes figurinos, poses e locações de fotos revelam a opulência social e a cultura que fizeram história no Interior. A exposição "Casamentos de Limoeiro do Norte", que está em cartaz desde agosto na Biblioteca Pública João Eduardo Neto, revela um retrato histórico da cidade, uma apanhado biográfico de famílias ilustres e anônimas. A curadoria é do artista plástico Antônio Nogueira Régis.
Casar com toda pompa, assumir o compromisso no papel e com Deus na igreja era para poucos. Afinal, vestido, véu, grinalda, terno, gravata, festa, bolo e, principalmente, fotografia, eram luxos para os mais abastados. Sede de uma diocese, Limoeiro do Norte foi palco de milhares de casamentos. Mas a possibilidade de ser casado por um bispo atraía casais até de cidades vizinhas. A Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição ficava cheia. Os convidados usavam a roupa da missa de domingo ou mandavam fazer traje novo. Os noivos vestiam terno do melhor tecido, comprada em Fortaleza ou Aracati.
Quando não havia carro, os noivos chegavam de carroça, muito bem ornamentada. A festa ocorria nos casarões dos emergentes da cera de carnaúba, liberada até para o casório do parente "não-rico". A exposição conta com 30 quadros de matrimônios, reproduzidas dos álbuns das famílias para a vista de qualquer visitante.
Lá está José Vidal de Sousa Maciel, 3º Intendente de Limoeiro, e sua esposa Maria Escolástica do Espírito Santo. Ele na frente, sentado, ela em pé, do lado. A foto é de 1890. Não se sabe onde foi tirada a foto - algumas eram produzidas somente dias após o casamento, em estúdios fotográficos de Fortaleza e Aracati. Ter uma fotografia de casamento era um luxo na segunda metade do século XIX e primeira do século XX.
O dentista João Eckner Eduardo e sua esposa Tereza Eduardo Nunes casaram há 47 anos. Fizeram as fotos em estúdio de Fortaleza. Dona Terezinha guarda muitas fotografias de casamento, de familiares a amigos. Em alguns casos, a foto do casamento era produzida mais de um ano após a celebração na igreja, quando dava para pagar a viagem ao estúdio de fotografia.
A dona-de-casa Elizomar Saraiva visita a exposição fotográfica. "Olha como ela era linda", aponta para a foto de 1960 de dona Rocilda Rodrigues e seu esposo Eliezer Rodrigues, dois anos após o casamento, época em que Rocilda era apontada como uma das moças mais belas da cidade.
A moda se transforma através do tempo, mas o vestido de noiva é o objeto de desejo das mulheres que vão casar. Em outras épocas, usar saia acima do joelho era uma afronta. Mas na década de 60, dona Socorro Coelho põe grinalda, sandália e um vestido branco bem acima do joelho. Era o sucesso da minissaia, não só uma moda, mas um ícone da moderna feminilidade, da mulher que casa com quem quer e veste o que quer.
"Cada foto, em cada pesquisa, nos mostra um retrato da sociedade da época, das pessoas que ali viviam, e isso só reflete a importância não só que o compromisso conjugal tem como a preservação da memória da cidade", afirma Antônio Régis.
A professora Manuela Santos confere a exposição fotográfica e decide levar a foto dos pais para se somar ao acervo, que inclui casais mortos e vivos, como dona Maria Alice e seu Raimundo Saraiva.
Este ano comemoraram com toda a família os 50 anos de casados. Os filhos, netos e bisnetos registraram tudo em fotos, dessa vez digitais.
CASAMENTOS
Exposição deve se tornar itinerante
Limoeiro do Norte A exposição começou com 30 fotos, e já há pelo menos mais cinco a serem reproduzidas pelo curador Antônio Nogueira Régis. Além de aumentar o número de retratos, já há proposta de ser itinerante. Esteve na Câmara Municipal, passou para a Biblioteca Pública e será levada para a Festa da Amizade, em Fortaleza, na semana que vem.
"Era exatamente o que a gente queria. Que as pessoas pudessem ver a exposição, sentir a falta de mais fotos e trazerem de seus pais, avós, bisavós. E assim vamos aumentando o nosso espaço de exibição", afirma Antônio Régis, que realizou a pesquisa ao longo de 2008, visitando as pessoas mais antigas da cidade e consultando historiadores e memorialistas. Quando não era a própria família que mandava a foto, amigos compartilhavam antigos álbuns com as fotografias que ganhavam de presente do casamento dos amigos.
O acervo concentra-se na segunda metade do século passado, mas algumas fotos, em pior estado, datam de 1890 e início dos anos 1900. São notadamente das famílias mais ilustres, que podiam pagar estúdios de fotografia para registrar o matrimônio. Nesse período, os "fotógrafos de casamento" ganhavam grande prestígio social. Só após a Segunda Guerra Mundial a fotografia se tornou acessível a todas as classes sociais, até que hoje pode-se comprar uma câmera analógica ou um celular com câmera digital. Durante esta semana, a exposição fotográfica se despede, temporariamente, da Biblioteca Municipal de Limoeiro do Norte e segue para a Festa da Amizade, realizada todos os anos pela colônia limoeirense em Fortaleza, e que acontece no próximo dia 19 de setembro. De acordo com Régis, será mais uma forma de ampliar o acervo fotográfico.
A exposição foi idealizada pelo artista plástico e realizada em parceria com a Secretaria Municipal da Cultura, que detem o espaço da exposição e quer difundir o trabalho, que pode ser copiado na região. Paralelo aos casamentos, Antônio Régis compila uma série de fotos da celebração de 1ª comunhão dos jovens de Limoeiro do Norte. Será outra exposição.
Mais informações
Biblioteca Municipal João Eduardo Neto - Limoeiro do Norte
Secretaria da Cultura
(88) 3423.1965
MELQUÍADES JÚNIOR
COLABORADOR
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