Novo protocolo vai permitir que milhões de dispositivos se conectem à Internet. Mas como isso afetará os profissionais de rede e suporte?
TI Master
Patricia Azeredo
A Internet se baseia no Internet Protocol (IP), que hoje está na versão 4. Porém, o IPv4 está em uso há mais de 20 anos e tem limitações, sendo a principal delas o número de endereços permitidos - 4 bilhões - que não atende à futura demanda dos dispositivos móveis e do crescente acesso de países como Índia e China. Resultado: vai faltar endereço. E todo dispositivo conectado precisa de um endereço IP.
Para evitar o caos, há 10 anos vem sendo desenvolvida a versão 6 do protocolo IP, conhecida como IPv6 ou IPNG (Next Generation), que permite bilhões de endereços IP a mais. Embora tenha utilização principalmente acadêmica no Brasil, ele já apresenta uso comercial no Japão e nos EUA, em empresas como Cisco e HP. Aqui, a Telefônica oferece serviços IPv6 a seus clientes e a RNP e o NIC.br estão plenamente adaptados ao protocolo.
Se há grandes empresas e instituições de pesquisa utilizando, por que o IPv6 ainda não foi adotado em larga escala? O Gerente de Negócios da empresa de Segurança da Informação Safenet, Paulo Vianna, dá seu palpite.
“Por mais que façamos trabalho de evangelização, enquanto não faltarem endereços IP o V6 não será aplicado. A escassez dos endereços vai forçar a mudança. É preciso estar preparado para quando a demanda surgir – alerta.
Apesar disso o Diretor de Negócios da consultoria Multirede, José Mauro, afirma a obrigatoriedade do novo protocolo e prevê aplicações rodando em IPv6 em curtíssimo espaço de tempo.
Prós e contras
Sendo assim, cabe perguntar quais são as vantagens e desvantagens do IPv6. A vantagem mais óbvia já foi citada: o aumento exponencial do número de endereços IP. Mas ainda há outras, como a escalabilidade e a possibilidade de novos serviços de localização e segurança, baseados na capacidade do V6 de permitir uma conexão permanente - “always-on”.
“Na Internet você vai ter a opção de desligar o equipamento e não ser encontrado. Hoje, quando mando um e-mail há um servidor no qual ficam armazenadas as mensagens. As novas necessidades de comunicação caminham para que você receba o e-mail exatamente na hora em que mandei – explica Mauro.
Já o Pesquisador do Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo, Salvador Giaquinto, fala do endereçamento do IPv6 permitindo a construção de tabelas de roteamento mais inteligentes, possibilitando o chamado “renumbering dinâmico”.
“Imagine dois provedores sendo utilizados pelo mesmo cliente. Se o link com um deles cair, automaticamente o outro será escolhido para funcionar. Isso é possível com o IPv6, embora ainda precise de ajustes – ensina.
O Instrutor de cursos Microsoft e Cisco do Instituto Infnet, Pedro Serrado, também citou a eficiência no roteamento e o maior número de endereços IP disponíveis como pontos fortes. Ele também vê desvantagens na implementação, lembrando a imensa base instalada em IPv4 e os prováveis transtornos de migração.
Adaptação necessária
Mesmo que ainda não haja prazo definido, a mudança será feita gradualmente de modo que os dois protocolos coexistam por muito tempo. Portanto, cabe ao profissional de TI estar preparado para enfrentar a situação. O Analista do Centro de Engenharia e Operações da RNP, Marcel Rodrigues, fala das dificuldades iniciais de adaptação ao IPv6, cujos endereços não terão mais o padrão de quatro conjuntos de dígitos em decimal, como 200.255.254.121.
“No início é difícil mas depois que o profissional se habitua tudo corre bem. No V6 a notação é diferente, pois os números aparecem em hexadecimal (sistema de numeração de base 16). Se o DNS reverso estiver implementado, fica mais fácil porque o nome do host é exibido no lugar dos caracteres em hexadecimal” – explica.
Serrado também acha a implementação do IpV6 trabalhosa por exigir o pensamento em hexadecimal, tornando a memorização do endereço IP mais difícil.
Por outro lado, há quem defenda o uso de aplicações para tratar esse endereçamento complexo e calcular os prefixos, como é o caso do Diretor de Serviços e Tecnologia do NIC.br, Frederico Neves. Segundo ele, o profissional com conhecimento básico de rede não terá dificuldades para trabalhar com o IPv6.
Giaquinto concorda. Para ele, quem já tem noção de como funciona o IPv4 vai conseguir se capacitar em V6 sem problemas. Além disso, ele deixa claro que os cursos serão necessários apenas para os administradores de rede, não afetando o suporte ao usuário final. Aliás, a troca ou convivência simultânea de protocolos será transparente para este usuário, que não precisará trocar sua placa de rede ou sistema operacional.
Contudo, a implementação do IPv6 vai gerar mudanças na forma de gerenciar a rede, exigindo monitoramento específico. Pode ser necessário ainda trocar equipamentos como roteadores e switches, pois nem todos suportam o novo protocolo. Existe ainda o gasto com aprendizado e treinamento para a área técnica.
O Diretor Técnico da Internet Security Systems para a América Latina, Marcelo Bezerra, separa as conseqüências do IPv6 em termos de pessoa física e jurídica e não vê muita diferença para quem trabalha com segurança, mesmo com o aumento de dispositivos conectados à Internet.
“Como empresa, é preciso adaptar os seus produtos. Já o profissional precisa estudar. A meu ver nada muda para quem trabalha com segurança, pois os inimigos e desafios continuam os mesmos. Se a empresa estiver bem preparada não vai ser pega de surpresa - analisa.
De acordo com Serrado, o profissional deve procurar documentação na Internet para entender melhor o IPv6. Ele alerta também para a importância de verificar se as aplicações existentes suportam o novo protocolo.
“É preciso testar os programas em relação ao IPv6. Por exemplo, aplicações em Java podem limitar a saída do pacote ou o seu tamanho. Nesse caso, vai ser preciso atualizar o módulo ou toda a aplicação – alerta o Instrutor do Instituto Infnet.
Prevendo a mudança, o programa de cursos da Cisco e da Sun já começou a abordar o IPv6. Para saber mais a respeito do novo protocolo, veja alguns links no blog do TI Master.
fonte: http://www.timaster.com.br/qr.asp?url=1116
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